segunda-feira, 25 de abril de 2011

Casas

           Eu gosto muito de casas antigas. Não apenas aqueles casarões tombados pelo Patrimônio Histórico. O “antigo” a que me refiro é, antes de um reconhecimento arquitetônico de beleza “oficial”, a simples resistência no tempo e no espaço de qualquer casa até os dias atuais. É curioso ver algumas espremidas entre dois arranha-céus, aguentando o passar dos anos e dos carros, caminhões. Chamam-me a atenção casas de madeira ou alvenaria já desbotadas pelas chuvas e falta de manutenção, que resistem ao crescimento “pra cima” das grandes cidades. Simpatizo com elas por que fica a sensação de original, onde nunca mexeram, onde apenas a família que a construiu deixou as marcas de sua permanência.

          Há as que são premiadas com o reconhecimento do Estado, e ganham reforma, cuidados, segurança e manutenção. Essas têm sua vida renovada e imortalizada, salvo alguma urgência pública. Sou vizinho de uma delas, literalmente, a vejo de minha janela, a uns 2 metros de distância. Já está tombada pelo Patrimônio Histórico, a salvo da especulação e necessidade imobiliária. Acolherá o Museu do Quilombo dos Palmares, segundo fontes inseguras. Causa nobre.


        


Passo por algumas dessas casas e fico olhando, imaginando quem são seus moradores, se foram os primeiros e únicos, se a família é grande, se houve festas memoráveis. Algumas têm a data de construção em cima da porta. Interessante o cuidado em marcar o início de sua função na sociedade: a de abrigar uma família. “Essa casa, a partir dessa data, está apta a exercer seu papel. Dará segurança e conforto a seus residentes.” Esse capricho se perdeu em alguma época, não sei por quê. Talvez pela transitoriedade de tudo, então pra que marcar tempo uma coisa que vira abaixo daqui a alguns anos?

        




         A última casa onde minha avó residiu, em Gramado – Rio Grande do Sul, por muitos anos ficou a “salvo” das demandas imobiliárias. Cada vez que eu ia para lá, passava pela Rua Augusto Zatti, e contemplava aquela casinha humilde de madeira, simples e muito simpática, acho até que bem ao estilo de minha querida vó. Da última vez, para minha surpresa, estava sendo desmontada. Me informei, no lugar crescerá um prédio residencial, que abrigará turistas de inverno. É o progresso mesmo...


segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Sótão - Parte 2

          Todos sabem que minha casa tinha um sótão muito especial, ao menos para mim. Era vasto, escuro, misterioso e de fácil acesso, o que me deixava dividido entre a curiosidade de desvendar e o receio de me meter em um lugar que, afinal de contas, nem era pra ser frequentado. Já entendia que existiam certas coisas sobre as quais era melhor nem ficar sabendo, naquela linha de que em alguns momentos da vida, a "ignorância" é mais confortável e saudável do que o conhecimento. Às vezes tinha vontade de continuar o trajeto, mas surgiam outras coisas, e o plano ia ficando pra depois.

          E um dos motivos que me fizeram adiar mais ainda a continuação da aventura foi por uma bobagem que eu fiz, não sei porque fiz aquilo, não tinha por quê.


          Eu sempre tive um misto de curiosidade e medo de filmes de vampiros e lobisomens. Quando eu era criança, lá pelos 6 anos, lembro de ver trechos de filme de vampiros, sempre a tarde, mas não olhava ate o final. E o mais célebre e aterrorizante "lobo-homem" da minha infância foi o Michael Jackson, no clipe de Thriller. Esses inputs da sétima arte povoaram minha imaginação durante muito tempo.

          Lembro também de uma reportagem no Fantástico sobre a suposta aparição de um caninus-humanus numa região do Brasil, lá pelo Nordeste, com depoimentos de testemunhas e tomadas de filmagem à noite, na residência rural onde ele teria aparecido. Imagina isso tudo "plantado" na minha mente fértil, propensa a cultivar as mais reais possibilidades de existência desses seres, e ainda por cima eu morando numa região meio rural. Eles poderiam vir aqui em casa, pelo matagal que havia atrás do meu pátio!!!!!

      Meu falecido pai, percebendo meu misto de preocupação e curiosidade, não tratou de desmanchá-lo, mas o encorajou, brincalhão que era. Certa vez me disse que assobiar a noite chamaria lobisomen. Deve ter se divertido muito, e me amado mais ainda, depois de ter visto meu olhinhos arregalados perguntando: “É mesmo????” Nunca mais assobiei de noite...

          Bueno, mas o que me fez adiar a volta ao sótão foi o seguinte: estávamos eu e meu pai em uma banca de revista, quando eu olhei um gibi que me chamou a atenção: era sobre histórias de vampiros. Lembro bem de abri-lo meio receoso, ler os primeiros quadrinhos e sentir dentro de mim o diabo da hesitação: compro ou não compro. A curiosidade venceu o medo, e adquiri o exemplar.

         Até ai, tudo bem. Li o tal gibi, eram histórias de vampiros como qualquer outra, todos sabem, a mocinha indefesa se vê em uma casa extremamente gigante, com um anfitrião pra lá de excêntrico, misterioso e metido a galanteador. Daí o cidadão, não tendo suas investidas bem recebidas pela gata, resolve ignorar e ataca na jugular da moça, que vira sua escrava eterna. Ele atacaria de qualquer forma, mas primeiro tenta na conversa. Não deu, vai à força.

     A bobagem que eu fiz, não sei o que me deu na cabeça, foi ter jogado o gibi lá no sótão. Um dia o peguei, fui até a entrada, e simplesmente arremessei lá dentro, no meio dos entulhos de madeira embaixo do telhado. Lembro da história, mas não lembro o motivo de ter feito isso. Medo, talvez. Queria me livrar do objeto, mas queria ter acesso fácil. Sei lá.

       Pois foi como se eu tivesse plantado uma semente de vampiro lá em cima. Que, aos poucos, germinaria em forma da criatura medonha, cresceria, se alimentaria primeiramente do sangue de algum ratinho ou passarinho, para depois iniciar cardápios mais complexos, tipo eu.   

       Esse era meu sentimento a cada vez que olhava para aquele telhado. Passei um bom tempo conferindo com olhar de “revesgueio” pro telhado. Se já tinha medo de subir lá novamente, com aquela situação, aí que não ia mesmo...

        O tempo passou, o sentimento se diluiu e acabei subindo lá de novo. A revista estava intacta, bastante empoeirada e nada de diferente aconteceu. Explorei o resto do sótão, me cuidando com algum bichinho indesejado e já vacinado contra qualquer “chamado” que viesse debaixo. Só encontrei pregos, pedaços de madeiras e algumas inofensivas teias de aranha.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Lembranças de Uma Tarde de Verão


            No percurso de nossa vida, assim, de cumprirmos com nossa rotina à mercê das “intempéries” do cotidiano, temos momentos nos quais alguma coisa externa nos faz acessarmos nossa “bagagem” existencial e revisar o porquê de termos esta ou aquela sensação nostálgica. Explicando melhor com exemplo: num fim de tarde de verão, naquele lusco-fusco do sol indo embora, mas protelando sua despedida do ocidente, sou acometido de um sentimento aconchegante, apesar de um certo mormaço que tira um pouco de nossa disposição. Me pergunto de onde vem meu bem-estar em temperaturas quentes, por quê gosto tanto do verão?

      Bem, não nasci na praia, não tenho casa em Floripa e meus veraneios foram interrompidos aos 5 anos e retomados aos 17, em virtude da falta de dinheiro e oportunidades. As melhores sensações de tarde quente da minha infância se deram na minha casa, no meu pátio, com minha família. Lembro dos finais de tarde, quando chegava bem suado e sujo pra tomar banho, e depois ficava sentado no chão da varanda de madeira, vendo meus pais tomarem chimarrão, me tranqüilizando com o cair da noite, o início do cantar dos grilos, o cheiro da grama cortada, o vizinho que passava e cumprimentava, o ventinho fraco que trazia a temperatura da noite pra nos confortar do calor do dia. Simulo algo parecido com isso quando pego o fim de tarde e o pôr-do-sol do Lago Guaíba, no Gasômetro, um ponto de lazer de minha cidade, Porto Alegre. Não é a mesma coisa, mas me conforta a fronteira entre a terra e a água, então fico bem ali, tomando chimarrão, e batendo algumas fotos.





            O verão está indo embora, até que bem devagarinho. No calendário ele já foi faz tempo. Estamos no Outono. Daqui a pouco, teremos dias e noites com a mesma temperatura fria. Virá o Inverno, com suas benécies para o ecossistema. Faz parte. Tirando os pés gelados, até me dou bem com o período de frio. Mas sol será menos presente, por dias nem aparecerá, pouca gente gosta de dias frios e chuvosos, por que ele gostaria?

Bujigão Olho de Gato

                        

           Sabem o que é um “bujigão”? É uma bola de gude tamanho grande, com algumas variedades nesse tamanho. No meu tempo de guri, ele era um artigo de luxo entre os jogadores de bolinha de gude (também chamada de “bulita”). Geralmente era esverdeado ou marrom e seu tamanho avantajado dava ao jogador maior área de toque nas outras bolinhas menores do adversários, mas também oferecia uma área maior para ser tocada. Como objeto/instrumento do jogo, tinha sua vantagem e desvantagem. Se quiserem saber o tamanho, façam assim ó: unam a ponta do indicador com a ponta do polegar, formando uma auréola; escorreguem a ponta do indicador até a primeira articulação do polegar e pronto: taí o tamanho aproximado do bujigão. Continuem até a próxima articulação e terão a circunferência de uma bola de gude convencional.

       E o “olho de gato”? Bom, a bolinha de gude olho de gato era o supra-sumo das bolinhas de gude. Era uma bolinha transparente, com um núcleo muito parecido com uma pupila de um gato, só que colorida de duas ou três cores, sendo levemente menor do que uma bulita comum. Era bonita a bichinha... Quem possuísse uma delas, só  levava consigo para exibir para o pessoal, ou como moeda de troca por outras bolinhas de gude comuns, numa proporção do tipo “5 por 1”. Jogar com ela era arriscar uma fissura, ou perdê-la mesmo na aposta do jogo.



        Agora imaginem uma bola de gude grande, transparente e com pupila de gato multicolor no interior? Era o Bujigao Olho de Gato, como esse da figura ao lado. Quem a olhasse podia ver nela uma “vontade de diamante” de tão linda que era a dita cuja. Era rara e extremamente valiosa no mercado de bulitas. Um objeto tão venerado, que ultrapassava o valor de mercado para transações cotidianas, tipo, uma delas valia tantas bulitas comuns que os negócios só sairiam se o comprador tivesse um grande estoque para pagar, o que raramente era o caso. Além do mais, o dono tinha um certo status na comunidade, e também tinha uma pontinha de medo, vai que alguém extrapolasse a barreira da propriedade privada e resolvesse empregar a força para adquirir o bem...

       O fato é que estávamos eu e dois colegas, no intervalo do recreio, disputando uma partida de bolinhas de gude. Mas essa partida não era valendo bolinhas (“as verda” como dizíamos”). Era uma partida amistosa, (“as brinca”) pois ninguém tinha bolinhas para pagar. Jogávamos por diversão, para passar o tempo e treinar para partidas “as verda”. E um dos meus colegas estava jogando com o tal do “bujigão olho de gato”, o que não o preocupava, pois não tinha perigo de perdê-lo na aposta, e estava gostando de mostrar a preciosidade para nós.

       Lá pelas tantas do jogo, depois de eu ter jogado a minha bolinha a alguns metros de distância, caminhei até ela me virei de frente para meu colega do bujigão. Seu movimento seria de atirar a bolinha para tentar acertar a minha, e eu fiquei parado atrás dela para acompanhar a trajetoria e torcer pelo erro. E meu colega arremessou o bujigão olho de gato, lindo, transparente, com “vontade de diamante”, em nossa direção... E o bujigão veio, voando...

       Aí ocorreu o inexplicável, imponderável, inacreditável: o bujigão sumiu, SUMIU. Não tocou na minha bulita, não correu para lado nenhum. O meu colega não entendeu muito bem, pois estava longe. Notando algo errado, veio a mim e perguntou onde estava o bujigão, e eu disse que não sabia, que não tinha mais visto ele desde que tinha saído suas mãos. O que era confuso ficou dramático, e depois virou terror na cabeça daquele guri: “como, da onde SUMIU? Não pode, TEM QUE ESTAR AQUI, EM ALGUM LUGAR!?!?”

     Começou, então, uma busca desenfreada pelo artefato valiosíssimo. O dono, apavorado, ofereceu recompensa para quem o achasse. Nós estávamos com um misto de alegria e certa resignação, pois, se achássemos, ganharíamos algumas bolinhas, mas também, o BUJIGAO estava perdido, se alguém achasse e, sei lá, não devolvesse, e guardasse pra sempre, ou vendesse em outra escola, ou mudasse de escola para virar celebridade... Sei dizer que as buscas foram vorazes pelo chão, que era um misto de chão batido com grama alta e ai também as dificuldades aumentaram, pois no mato as coisas se perdem com mais facilidade e o meu colega já estava arrancando leivas e leivas de grama desesperado atrás do tal de bujigão.

        A verdade é que ninguém achou nada. Nem sombra da bolinha. Decepção de todos, principalmente do meu pobre colega injustiçado pelo infortúnio. Até voltei ao lugar mais tarde pra apalpar mais um pouco de grama, mas tudo em vão. O pequeno tesouro se fora para sempre.


         Terminado o dia, fui para minha casa. Ao chegar, notei um certo peso na bainha da minha calça. Apalpei e, para minha estupefação, ali estava ele: o BUJIGAO OLHO DE GATO!!! Ele havia caído dentro da bainha sem ninguém perceber, nem eu. Peguei-o e o admirei por uns instantes. Se devolvi ao dono? Confesso que não. Fiquei com ele. Só deixei ele lá, no meu armário. Não vendi, não mostrei a ninguém, não contei vantagem, nem mudei de escola. O tempo o levou, como outros brinquedos da minha infância. Meu colega deverá ter a minha idade. Será que ele ainda pensa onde diabos estaria o seu Bujigão Olho de Gato?

O Sótão

       
         Só quando evocamos algumas lembranças do tempo de criança é que temos a dimensão do quão rico de sentidos eram os acontecimentos que faziam o nosso cotidiano. A criança, falo isso por mim, potencializa de uma forma os vários elementos que compõem uma situação que a torna mágica na hora, e agora, quando somos adultos e paramos para relembrá-la, ela se torna, mais do que tudo, engraçada.

        Para quem teve a felicidade de ser criança morando em uma casa, e sobretudo em uma casa em uma zona rural, com um pátio grande, com árvores, grama, mato, cobra, cachorro, passarinho (livres), ninho de passarinho, galpão, casa na árvore etc, esse espaço adquire uma simbologia de “mundo infinito a ser explorado”, no qual, a cada dia, surge uma nova fronteira a ser desvendada, um novo espaço cujos recursos esperam por serem utilizados. Lembro de períodos em que brincava na parte de “cima” do terreno, o lugar mais distante dos olhos de meus pais, mas também um tanto misterioso pra mim, pois não andava muito por lá. Era onde tinha um pessegueiro, que dava frutos duros e amargos (logo depois me dei conta de que estavam verdes...), mas enfim, lembro muito bem dele, de seu caule oleoso e estranho, de seus galhos esturricados e de suas folhas finas, alem do fruto amargo.

           Dizia que os espaços físicos ganham riqueza de sentido em nosso cotidiano quando somos crianças. Depois de adultos, eles assumem caráter mais pragmático – só quando nos permitimos um momento de lirismo é que eles novamente adquirem uma feição mais subjetiva. A criança não precisa fazer força pra isso o que é o maravilhoso do mundo infantil. Então, um dos espaços físicos que fazem parte de uma casa é o sótão. Tal espaço já foi cenário de muitos filmes, lembro principalmente dos filmes de terror americanos. Compreensível essa escolha, uma vez que são lugares para aonde vão coisas (ou pessoas – credo) a serem esquecidas e nas casas americanas o acesso é fácil, a escada termina na porta de entrada do sótão. Minha casa de infância não era assim, mas eu também tinha um acesso muito facilitado ao sótão. Vou explicar.

          Nossa casa foi construída em um terreno relativamente bem inclinado, como se fosse em uma colina de inclinação amena, tipo, muito íngreme para um terreno e pouco íngreme para uma colina... Tá, enrolei e não disse nada, pensa em um terreno inclinado. A casa era de alvenaria, retangular e bem larga, e sua fachada era virada para o lado de baixo do terreno. Assim, a fachada tinha uns 3 metros de altura, e a parte de trás ficava a 1 metro do chão. Lembro do período em que comecei a querer explorar aquele vasto, escuro e misterioso espaço. Olhava pelos espaços entre o telhado e a chapa de concreto, era escuro lá, só penetravam réstias de sol por alguma fresta. Via as silhuetas das madeiras que sustentavam o telhado, e só. Olhava, espiava, cogitava um dia saber o que aquele vasto lugar escondia. Seria meu sótão assombrado como os que eu via nos filmes?

          Um dia resolvi subir. Me preparei bem: chinelo de dedo de tiras novas, bermuda, camiseta e meu pequeno canivete (que perdi lá dentro L). Pela estrutura da casa, em um lado tinha um vão maior, onde seria a escada do segundo andar da casa (que nunca fora construído). Já estava mais crescidinho, e consegui escalar a parede. Lembro que foi difícil. Mirei de fora, trepei e entrei no sótão.

          Era um lugar quente, abafado, empoeirado. O coração já batia bem acelerado. Como reconhecimento, avancei alguns metros, abaixado, na penumbra. Cuidando cada passo, esquadrinhando cada centímetro de piso, torcendo pra não ser atacado por alguma aranha carangueijeira de 5 quilos e veneno ultrapowerfatal. Depois de alguns minutos, me ambientei com o escuro e a visão ficou melhor. Progrido mais uns passos. O telhado fica mais alto, consigo avançar, meio encurvado, lentamente. Começam as teias de aranha nas dobras das armações de madeira. A visibilidade cai novamente, pela falta de frestas entre as telhas. Fico mais tenso. Cada movimento é friamente calculado. Controlo a respiração, pra não ficar ofegante e fazer ruído. Sinto meus batimentos cardíacos a uns 2.036 por minuto.
    
      Aí acontece uma coisa que quase me desintegrou, quase virei pó, quase virei do avesso do susto: minha mãe me chamou de dentro de casa, só que ela estava bem embaixo de mim, num cômodo. Sabem o que seria isso? Uma voz abafada, lenta, amorosa até, mas que vem de baixo? É o CAPETA te chamando, chegou no Portal dos Infernos, azar teu, ninguém mandou te meter a corajoso.

      Foi uma sensação intensa, mas graças a Deus, curta. Resolvi sair dali, acho que já era hora de voltar mesmo.

      Durante um bom tempo não senti vontade de explorar o restante do vasto sótão.

domingo, 10 de abril de 2011

Sobre escrever em blogues


           É matéria de muitas reflexões sobre a nova sociedade digital a tendência mundial dos blogues. Afirmam alguns especialistas que é uma das decorrências do enclausuramento do indivíduo nos limites do seu apartamento, acuado pela insegurança crescente e cada vez mais resistente em estabelecer relações humanas presenciais, muito em função do tempo cada vez mais escasso.  Assim, para exorcizar seus "demônios" da sociabilidade, e para passar o tempo também, é cada vez maior o número de pessoas que usam desse recurso para constituir linguagem, ou simplesmente “se expressar”.
   

Fonte:http://grafiasnoturnas.blogspot.com/2009/

          "Se expressar". Sempre fizemos isso, leitor, só que com a fala, nos botecos, churrascadas, rodas de chimarrão, nas sociedades literárias, nas agremiações, etc. Nesse novo espaço conquistado às avessas pelo indivíduo, ele não pôde negar sua natureza de comunicação, que extrapola os limites dos pedidos de tele-entrega, por muito tempo. Então, surgem as grandes redes sociais, voltadas para estabelecimento de amizades virtuais e também os sites de relacionamento, voltados para namoros virtuais. Continua sendo o “entre quatro paredes, tudo fica claro e ninguém fica indiferente” do cantor e compositor gaúcho Humberto Gessinger, com o adição do modelo pós-moderno escrita-na-rede em substituição ao modelo “arcaico” da fala-em-rodas-de-chimarrão-aos-domingos e outros co-relacionados.

            A respeito de escrever em blogues, mesmo que me cause uma ponta de tristeza constatar que o fenômeno acima descrito seja bem corriqueiro, por que eu também faço parte desse mecanismo, em grande parte por estar nessa “ciranda” de muitas vezes só conseguir sentar e trocar uma idéia com alguém pela internet, vejo também um lado positivo nisso. Sei que não é novidade os benefícios de ler e escrever em blogues. São atividades pelas quais temos a chance de ver e mostrar reflexões sobre o mundo, de maneira fácil, rápida e barata, coisa que só poderia ser feito em papel há alguns anos. Então não “reinventarei a roda” sobre isso. Estou de acordo: blogues e outras mídias digitais que permitem a participação de qualquer interessado são os mais democráticos instrumentos de comunicação já inventados, na minha opinião.


Fonte: peregrinacultural.wordpress.com

          Minha contribuição para saudar esse recurso é a que, por esse meio, temos a chance de organizar melhor nossos discursos acerca dos assuntos de nosso interesse. Em rodas de conversas os discursos são entrecortados, interrompidos e muitas vezes não temos tempo para explanar tudo que pensamos. No entanto, defendo essa prática de conversas em grupo. Que isso se perpetue e os pais estimulem a roda de debates com seus filhos, pois o diálogo é fundamental para o núcleo familiar. Esse é um conceito que tenho muito forte em mim, e pretendo botar em prática, quando tiver minha família. Assim, não como substituição do debate presencial, mas como adição, a internet tem muito a nos beneficiar. E escrevendo, podemos trabalhar melhor as emoções contidas em nossas histórias. Humor, tristeza, compaixão e outras adquirem, através da linguagem escrita, uma outra dimensão, nem melhor nem pior do que na língua falada, apenas diferente.

         Assim, saúdo as mídias digitais: os tópicos do Orkut, onde se fazem ótimos debates; o Youtube e Facebook e os espaços para comentários nos sites comerciais. Além de exercitarmos nosso pensamento, exercitamos a escrita e convivemos com diferentes tipos de linguagem. Através deles, nossos escritos podem ir longe. As histórias podem ajudar, divertir, encorajar, estimular outras pessoas. Esse é um grande serviço que essa tecnologia presta ao sujeito: além de propagar suas idéias, as fazem instantaneamente, para um grande número de pessoas e instaura o diálogo entre elas.

          Bem, não esgotei esse assunto, sou passível de reconsiderações. Senti vontade de escrever algumas coisas, e gostaria que meus amigos e futuros amigos lessem, comentassem, criticassem. É isso.